Estudo: Mediunismo

Assim como ao futuro acadêmico compete primeiramente estudar a cartilha primária, a fim de aprender o alfabeto que o credenciará para tentar no futuro os estudos mais complexos da cátedra universitária, o médium também precisa começar o seu desenvolvimento mediúnico orientado pelas lições básicas da doutrina espírita. O homem pode tornar-se engenheiro, advogado, médico ou magistrado, mas ele sempre terá de começar pela alfabetização.

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Só o desenvolvimento mediúnico correto, supervisionado por outras criaturas sensatas e experimentadas, é que realmente poderá garantir os resultados proveitosos e evitar os espinhos das decepções prematuras ou o desencanto das tarefas fracassadas. Embora alguma criaturas se deixem atrair pelas manifestações e encenações exóticas, que impressionam os leigos nos fenômenos mediúnicos, o intercâmbio satisfatório e profícuo com o Além também requer disciplina semelhante à que se exige nos cursos acadêmicos do mundo profano.

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Sob qualquer hipótese, os espíritos benfeitores da área espírita sempre preferem comunicar-se pelos médiuns cujo desenvolvimento mediúnico se orientou principalmente pelas normas expostas no “Livro dos Médiuns”, que ainda é o admirável repositório de regras sensatas e advertências salutares, concretizadas só depois de copiosa experimentação mediúnica. É obra que pode ajudar o progresso do candidato a médium, distanciando-o das decepções e do desperdício de tempo, como é muito comum no desenvolvimento empírico e inexperiente.

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A mediunidade é um patrimônio do espírito; é faculdade que se engrandece em sua percepção psíquica, tanto quanto evolui e se moraliza o espírito do homem. A sua origem é essencialmente espiritual e não material. Ela não provém do metabolismo do sistema nervoso, como alegam alguns cientistas terrenos, mas enraíza-se na própria alma, onde a mente, à semelhança de eficiente usina, organiza e se responsabiliza por todos os fenômenos da vida orgânica, que se iniciam no berço físico e terminam no túmulo.

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A mediunidade é faculdade extra-terrena e intrinsecamente espiritual; em sua manifestação no campo de forças da vida material, ela pode se tornar o elemento receptivo das energias sublimes e construtivas provindas das altas esferas da vida angélica. Quando é bem aplicada, transforma-se no serviço legítimo da angelitude, operando em favor do progresso humano. No entanto, como recurso que faculta o intercâmbio entre os “vivos” da Terra e os “mortos” do Além, também pode servir como ponte de ligação para os espíritos das sombras atuarem com mais êxito sobre o mundo material. Muitos médiuns que abusam de sua faculdade mediúnica e se entregam a um serviço mercenário, em favor exclusivo dos seus interesses particulares, não demoram em se ligar imprudentemente às entidades malfeitores dos planos inferiores, de cuja companhia dificilmente depois eles conseguem se libertar.

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Não há dúvida, pois, de que todas as criaturas são médiuns. A mediunidade não é faculdade adstrita somente a alguns seres, ou exclusivamente aos espíritas, mas todos os homens, como espíritos encarnados na matéria, são intermediários das boas ou más inspirações do Além-Túmulo. É evidente, entretanto, que a faculdade mediúnica se manifesta de conformidade com o entendimento e o progresso espiritual de cada criatura.

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A manifestação mediúnica não depende da crença ou poderio religioso, nem de convicções pessoais do homem ou do ambiente onde vive, mas é consequência inalterável do compromisso que o espírito assumiu antes de se reencarnar, cujo mandato ele requereu em seu próprio benefício e deve ser cumprido na hora aprazada. Quer então seja ateu, participe do ambiente espírita, devote-se a qualquer seita religiosa ou tenha-se comprometido com alguma instituição iniciática, a faculdade mediúnica de “prova” eclode-lhe no momento exato em que deve realmente iniciar a sua tarefa sacrificial.

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O mandato mediúnico, que autoriza o seu outorgado a prestar um serviço útil à coletividade encarnada, também beneficia-lhe o espírito imperfeito, por cujo motivo é compromisso que deve ser executado com toda dignidade e elevação moral. Aceitando a tarefa mediúnica de suma importância para si e para o próximo é evidente que o médium também fica responsável por qualquer desvio ou perturbação que venha a produzir durante o exercício de sua tarefa no mundo profano.

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O médium, como instrumento fiel da vontade do Senhor, revelada no mundo de formas, elabora um dos piores destinos para o futuro quando, pela sua negligência ou má-fé, subverte o programa espiritual que prometeu divulgar à superfície da Terra. Há sempre atenuante para aquele que peca por ignorância, mas é indigno da tolerância quem o faz deliberadamente, depois de haver-se comprometido para a efetivação de um serviço que diz respeito ao bem de muitas outras criaturas.

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Embora o desempenho da mediunidade semeie certas desilusões e dúvidas no médium ainda incipiente, pouco a pouco ela se transforma num dos melhores ensejos de reflexões para o melhoramento espiritual do seu portador. De acordo com o conceito de que “a função faz o órgão”, à medida que o médium se renova em espírito e afeiçoa-se ao estudo superior, ele também se torna o medianeiro das entidades cada vez mais elevadas, de cujo intercâmbio lhe resulta desde a preferência pelos pensamentos construtivos e atitudes benfeitoras, até à modificação louvável de sua linguagem grosseira para um nível respeitoso e sadio.

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Naturalmente não pretendemos endossar os abusos de imaginação, os exotismos e as excentricidades dos médiuns avessos ao estudo, presunçosos, interesseiros ou exibicionistas. Reconhecemos, no entanto, a interferência ou associação de idéias no médium consciente, porque no seu esforço para lograr a passividade no transe, ele toma o conteúdo de sua alma como sendo manifestação alheia. Nem todos abusam do animismo sob propósitos condenáveis ou para fins vaidosos, por cujo motivo não aconselhamos a desistência do desenvolvimento mediúnico, só porque a interferência do médium perturba a transparência cristalina das comunicações dos espíritos desencarnados.

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O que muito preferimos em nossos médiuns ainda é o serviço cristão incondicional, aliado ao estudo sincero da espiritualidade. Satisfaz-nos a revelação da ternura, a prática da benevolência e da tolerância, a cultura da honestidade e a manifestação da humildade, pois, malgrado sejam mesmo anímicos para as mensagens dos desencarnados, serão os nossos mais louváveis intérpretes, em incessante comunicação benfeitora à luz do dia.

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O médium sensato, estudioso e serviçal compreende que não é bastante submeter-se ao transe mediúnico junto à mesa espírita em noites programadas, para cumprir satisfatoriamente o seu mandato pois, mesmo em estado de vigília e sob o inteligente treinamento do seu guia, ele pode recepcionar as mensagens de favorecimento ao próximo, transmitindo o conselho, a sugestão e a orientação espiritual mais certa.

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O médium já identificado com os seus deveres mediúnicos jamais se considera com os mesmos direitos à vida folgazona do cidadão comum, que vive preocupadíssimo em nutrir-se, vestir, dormir, procriar e fugir espavoridamente da morte física. O serviço mediúnico, útil e amoroso, exige a abdicação de todos os vícios, paixões e frivolidades do mundo provisório de César, porque o seu objetivo é transmitir os valores do mundo do Cristo. Raramente o médium logra atender com êxito e ao mesmo tempo a ambos esses mundos de natureza tão oposta, pois o mundo do Cristo é sem os atavios da personalidade humana, requerendo a simplicidade, a renúncia, a decência, a honestidade, o pensamento casto e os sentimentos altruístas, que constituem o temperamento espiritual da alma superior. O mundo de César, no entanto, é laboratório de experimentações humanas, onde as criaturas se digladiam na insana luta de acumular tesouros, glorificar-se politicamente e usufruir de todos os prazeres e paixões que lhe satisfaçam a sede de gozo carnal.

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Obviamente, a solução do animismo, que se manifesta nos seus mais variados aspectos, não será conseguida através de censuras; mas é necessário enfrentar esse problema sem receio dos “tabus” ou de ferir suscetibilidades presas ao misticismo improdutivo. O Espiritismo é doutrina sensata e evolutiva, e não pode endossar as anomalias que no exercício mediúnico podem situá-lo sob a crítica maldosa dos adversários. O médium, que é um dos elementos de maior importância na propaganda do Espiritismo prático, deve impor-se pela sua modéstia, conduta moral superior e um serviço mediúnico isento de quaisquer excrescências ridículas.

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A faculdade mediúnica é o meio que faculta aos desencarnados a realização do serviço útil ao próximo. Mas para isso o médium que intercambia os princípios elevados do Alto precisa viver em absoluta harmonia com aquilo que flui para os encarnados, se não quiser tornar-se o repasso dos espíritos levianos, irresponsáveis e mal intencionados. Qualquer médium distraído de suas obrigações comuns e ligado às aventuras menos dignas não passa de candidato eletivo à mistificação do Invisível.

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Os Guias nunca vos deixam sem assistência espiritual, seja qual for a necessidade de vossa vida. Mesmo em relação aos problemas comuns da vida cotidiana, alguém do “lado de cá”, sempre vos presta a cooperação desinteressada. Mas isso é feito através da via-inspirativa ou da sugestão benfeitora, em que vos fica o mérito da boa escolha, de acordo com o vosso discernimento espiritual.

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Sob qualquer hipótese, os protetores só vos inspiram nos negócios honestos e nas realizações benfazejas, e afastam propositadamente os seus pupilos das transações lucrativas, quando disso possam resultar prejuízos materiais ao próximo. Eles evitam-vos toda vantagem ou conforto da vida carnal, desde que tal coisa possa agravar-vos a dívida cármica com conseqüente prejuízo para o espírito imortal.

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A mediunidade, e principalmente a de prova, não é um dom concedido pelo Alto para ser aproveitado de qualquer modo e a qualquer preço, com o fito de “salvação” urgente da humanidade terrena. Ela é um recurso, ou seja, um acréscimo divino concedido prematuramente para a melhoria espiritual do próprio candidato a médium, geralmente bastante endividado pelas suas imprudências do pretérito. Em conseqüência, o que importa não é a quantidade do tempo que ele precisa despender para o seu desenvolvimento, mas é que a qualidade espiritual aprimorada, conseguida durante o exercício ou o comparecimento à sessão mediúnica.

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Na sua freqüência assídua à sessão mediúnica e ante a influência benfeitora da oração e dos ensinamentos evangélicos, ele terá ensejo de dominar muitos impulsos viciosos e moderar os sentimentos irascíveis e indisciplinados. Comprovando a imortalidade da alma, através dos espíritos comunicantes, também elevará o seu tom psíquico, dinamizando sua fé nos propósitos da vida espiritual. No serviço de irradiação aos enfermos o médium ativa as próprias células cerebrais, enquanto desenvolve melhor o senso crítico e ajuizamento no julgar as coisas ao defrontar-se com os motivos de angústia e de perturbação dos espíritos sofredores, que são alvo dos esclarecimentos benfeitores do doutrinador.

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O progresso da faculdade mediúnica, já o dissemos, é fruto do esforço próprio, da perseverança e da tenacidade. O médium estudioso, pesquisador incansável dos preceitos superiores da vida imortal, é interessado em todos os esforços educativos da Ciência e da Filosofia do mundo, não tarda em superar o ambiente acanhado de que participa, tornando-se elemento útil e sábio que, invertendo os papéis, passa a esclarecer os próprios companheiros mais ignorantes. O esclarecimento da razão e o aprimoramento espiritual são tarefas tanto de médiuns, doutrinadores e dirigentes, como também de adeptos espíritas. Os que ficarem na dependência do progresso dos companheiros, aguardando comodamente a colaboração alheia e o esclarecimento mecânico de fora, não há dúvida de que terminarão cristalizados sob condenável estagnação espiritual.

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